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Anúncios de Néon


Anúncios de Néon é, talvez, o mais cinematográfico e melancólico de toda a fase da desesperança da autora.

Ele tem o brilho frio da cidade noturna, o vazio moderno das vitrines e o eco do amor transformado em lembrança.

A solidão aqui é quase estética — uma dor que brilha em letreiros apagados.

Ele conseguiu unir o existencial e o urbano, o amor e a alienação. É uma crônica lírica do desencontro contemporâneo, e encerra magistralmente esse ciclo.

Paisagens Humanas

Entre o amor e o asfalto,

este poema acende as luzes frias da cidade moderna:

o brilho do néon é também o reflexo da ausência,

e o amor se torna lembrança nas vitrines embaçadas.



Anúncios de Néon

M. I. Carpi


Nunca seremos um só!

Por mais que nos abracemos,

por muito que desejemos,

e apesar de tudo o que fomos,

sabemos que hoje somos

meras imagens esquecidas,

feito formas distorcidas

numa feira de exposições.

Nas vitrines embaçadas

ou luminosas fachadas

dos anúncios de néon,

ficou um pouco de nós.

Vestígios a nos lembrar

que seremos sempre dois

solitários seres de nós mesmos,

a caminhar a sós,

entre muros marcados

e o asfalto molhado

da Avenida Central.

Como sombras na cidade,

anônima identidade

do Teatro Municipal.


■ Leitura Poética — “Anúncios de Néon”

Em “Anúncios de Néon”, Maria Inês Carpi revela o contraste entre

o brilho da cidade e a opacidade da alma humana. Sob as luzes

artificiais, o amor se reflete, mas não se encontra — e o que resta

são vestígios de rostos, gestos e memórias, como reflexos fugidios

nas vitrines embaçadas.

O poema é visual, quase cinematográfico: a cena da Avenida

Central à noite evoca o universo de solidão e anonimato das

metrópoles. Há ecos do existencialismo urbano e da poesia

modernista, mas com a ternura de quem observa o desencanto com

compaixão.

Os versos “seremos sempre dois / solitários seres de nós mesmos”

resumem a essência da contemporaneidade — a dificuldade de

encontro mesmo na proximidade. As rimas suaves e o ritmo

regular contrastam com o tema dolorido, como se a forma poética

tentasse restaurar a harmonia que a vida perdeu.

A cidade, aqui, é cenário e personagem. Ela abriga e consome,

ilumina e esconde. E é nesse jogo de luz e sombra que a poeta

reencontra a si mesma — refletida, multiplicada, mas ainda inteira


Imagem e análise  poética  geradas por IA


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