■ Caminhos de Mim
fragmentos de tempo e sentimentos
■■ Maria Inês Carpi
Vão do Metrô
(M. I. Carpi)
Menino da rua,
carente de afeto,
seu teto: este céu
que a luz e a fumaça
coloriram de lilás.
Sua cama: a calçada
ou o vão do metrô —
abrigo esquecido
de um sonho perdido,
há tempos atrás.
Seu futuro: abandono,
aparente ironia
do cenário produzido,
num rosto embrutecido
no amanhecer.
Seu olhar: ousadia
que persiste e denuncia
a miséria que insiste
em residir, ainda,
em cada olhar da cidade.
■■ M. I. Carpi
■ Leitura Poética — “Vão do Metrô”
Em “Vão do Metrô”, Maria Inês Carpi lança luz sobre o que a
cidade tenta ocultar. O poema é uma elegia silenciosa aos que
habitam as margens — crianças esquecidas que vivem entre o
concreto e o esquecimento.
A linguagem é enxuta, direta, mas profundamente humana. Cada
imagem — o céu colorido de lilás pela fumaça, o vão como abrigo
— constrói uma cena de beleza trágica, onde o olhar do menino se
torna o único gesto de resistência.
A poeta não fala de piedade, mas de visibilidade. Há dignidade
nesse olhar que denuncia sem palavras, nessa infância
interrompida que, mesmo ferida, “persiste e denuncia”. O poema é
denúncia e prece ao mesmo tempo — uma tentativa de devolver ao
invisível o direito de existir.
Em meio ao ruído da metrópole, “Vão do Metrô” nos obriga a
escutar o silêncio mais profundo: o da ausência de um lar, o da
esperança que resiste entre os trilhos e a madrugada

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